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Entrevista especial: Péricles Weber, COO da Iguá Saneamento e André Salcedo, diretor de Transformação da Iguá

Em julho de 2021, após ampla discussão e participação da sociedade, o Congresso Nacional sancionou o Novo Marco Regulatório do Saneamento Básico, que prevê, entre outras coisas, a universalização dos serviços de água e esgoto no Brasil até 2033. Aqui no DiBlasi Parente & Associados, nos unimos ao Centro de Liderança Pública (CLP) e a um conjunto de entidades, para o lançamento do Guia do Saneamento Básico e da Plataforma do Saneamento, ferramentas que reúnem as principais informações sobre a lei e fornecem conhecimento aos gestores públicos municipais para diagnósticos e tomadas de decisão.

Quando se fala de desenvolvimento sustentável no Brasil, Saneamento tem grande destaque e por isso, para conversar mais sobre projetos em desenvolvimento e iniciativas, a Propriedade no Assunto conversou com Péricles Weber, COO da Iguá Saneamento e André Salcedo, diretor de Transformação da Iguá, empresa presente em cinco estados brasileiros e que, desde 2017, se posiciona com a meta de ser a melhor em saneamento no país até 2030.

1. Cuidar do meio ambiente, ter responsabilidade social e adotar melhores práticas de governança tornou-se primordial para as empresas e com isso, o conceito ESG vem ganhando maior projeção e urgência. Como a Iguá planeja ser referência no setor na percepção dos fatores ESG?

PÉRICLES: A Iguá acumula iniciativas que estão na vanguarda do setor de saneamento, a começar pela própria estratégia de sustentabilidade da empresa, orientada por padrões de organizações internacionais, como Sustainability Accounting Standards Board (SASB) e Global Reporting Initiative (GRI). Fomos a primeira companhia de saneamento do país a se comprometer com a iniciativa Science Based Target (SBTi), que estimula empresas a adotarem metas baseadas na ciência para redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE). Neste ano, assumimos publicamente o compromisso de zerar as emissões de carbono do nosso negócio até 2030.

Recentemente, passamos a integrar a Green Bond Transparency Plataform (GBTP) sendo a primeira empresa de saneamento a divulgar seus dados na plataforma. Lançada em abril pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a ferramenta online permite a investidores e à sociedade acompanhar os principais dados e indicadores de desempenho de projetos financiados por títulos verdes na América Latina e no Caribe. No caso da Iguá, o escopo atual são as operações de Cuiabá (MT) e Paranaguá (PR), que já fizeram emissões de debêntures sustentáveis (com a classificação tanto de “verde” quanto “social”).

Em 2020, a Iguá foi eleita pelo quarto ano consecutivo uma ótima empresa para se trabalhar pela consultoria Great Place to Work (GPTW). No mesmo ano, aderimos à Rede Brasil do Pacto Global, iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU) para mobilizar a comunidade empresarial na adoção de princípios universalmente aceitos nas áreas de direitos humanos, trabalho, meio ambiente e combate à corrupção, para atender aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Temos quatro pilares essenciais que orientam nossas ações socioambientais em todas as unidades operacionais, constituindo o planejamento estratégico SERR: Segurança hídrica; Eficiência na produção e distribuição de água; Responsabilidade na coleta e tratamento de esgoto; e Respeito às pessoas. Colocamos foco em questões essenciais, como conservação de mananciais, inclusão e diversidade, qualidade de vida e trabalho dos colaboradores e, principalmente, em nossos clientes, que são parte integrante de comunidades cada vez mais impactadas positivamente pelos serviços de saneamento, com redução de doenças de veiculação hídrica, conservação ambiental, valorização econômica e do espaço público.

Em agosto de 2020, a Iguá foi a primeira empresa do país a emitir debêntures de infraestrutura sustentáveis (green & social). Os papéis, que totalizaram R$880 milhões, receberam da SITAWI Finanças do Bem o selo de sustentabilidade, em reconhecimento ao seu impacto socioambiental. Por todos esses aspectos mencionados, acreditamos que estamos trilhando o caminho certo para nos tornarmos a principal referência em ESG do setor no Brasil.

2. Em outubro do ano passado foi decretada a Política Nacional de Inovação, com o objetivo de alinhar o fomento à inovação com o respeito ao desenvolvimento sustentável e ao aumento da qualidade de vida para toda a população brasileira. Falar de saneamento é de suma importância quando falamos de qualidade de vida, diante disso, como a Iguá tem investido em soluções inovadoras, que possam trazer ao setor de saneamento iniciativas cada vez mais eficientes? E como as práticas da inovação podem ajudar as organizações a amadurecer os indicadores relacionados ao ESG?

PÉRICLES: Inovação ainda é um tema relativamente novo no Brasil e estabelecer uma política nacional para coordenar e articular ações com esse foco, sem dúvida, é um avanço. No caso do saneamento, a situação ainda é mais desafiadora e com mais oportunidades, dado que é um setor com histórico de inovação incipiente. A Iguá foi pioneira em duas frentes: a primeira no fomento à inovação no setor, por meio do Iguá Lab; e no apoio e estruturação de startups que possibilitem melhoria do serviço e lançar novos produtos para o setor. Em média, avaliamos e conhecemos uma startup a cada dois dias e testamos uma nova solução por mês. Hoje, há 20 startups sob contrato com a Iguá.

No ano passado, criamos o “Grand Challenge – A Água como Serviço”, um desafio anual para estimular ainda mais o diálogo entre empresas e startups interessadas em desenvolver novas tecnologias. Acabamos de conquistar o primeiro lugar no ranking da 100 Open Startups como a empresa de saneamento mais engajada em iniciativas de inovação aberta do país, uma referência importante no mercado.

A Iguá já está estruturando testes com sistemas preditivos de gestão operacional e perdas em conjunto com empresas de origem portuguesa e espanhola, além de um equipamento americano que realiza análises de qualidade da água online, por exemplo. Também estamos avaliando a viabilidade de um produto baseado em inteligência artificial, que permite ao cliente acompanhar em tempo real seu consumo de água, conhecendo melhor o próprio perfil de gastos e identificando desperdícios. Essa tecnologia está em fase de MVP nas cidades de Mirassol e Andradina (SP) e, até o momento, mostrou ser possível atingir precisão de 99,3% na medição de consumo. Outro projeto em andamento possibilita que cabos de fibra ótica compartilhem a infraestrutura de saneamento, embarcados nas redes a serem instaladas.

Pela ótica operacional, resíduos gerados no tratamento de água e esgoto, como o lodo, são aproveitados em outros processos. No Agreste alagoano, ele é aproveitado na produção de tijolos e as mantas usadas em sua secagem servem como cobertura para hortas dos produtores locais. Já em Atibaia, no interior de São Paulo, o lodo é usado na produção como insumo para floricultura.

3. O novo marco do saneamento básico completou um ano no mês passado. Quais são as maiores oportunidades e desafios que ele trouxe para o setor?

ANDRÉ: O novo Marco do Saneamento tem algumas vertentes relevantes e que servirão de base para os próximos acontecimentos. O primeiro, e mais óbvio, é reforçar o compromisso com as metas de universalização de água e esgoto, fazendo com que todos os municípios, titulares dos serviços, tenham de se adequar. Um aspecto muito importante foi o fim dos contratos de programa e a necessidade de licitar contratos vencidos ou venham a vencer, criando um ambiente de competição mais saudável e transparente – o que de fato permitiu o pipeline de novas concessões.

Outro pilar já conhecido institucionalizado pelo novo Marco é a regionalização, que permite um desenho otimizado de privatizações e parcerias, unindo municípios que podem se beneficiar de uma infraestrutura única. O decreto de capacidade econômica também vem na mesma esteira para garantir que as companhias tenham as condições necessárias para a prestação adequada dos serviços. Além disso, esperamos que a agenda regulatória a ser liderada pela Agência Nacional de Águas (ANA), venha proporcionar ainda mais segurança jurídica para o setor.

Por fim, não podemos esquecer do ciclo virtuoso que o saneamento traz para os municípios e a vida das pessoas. Além da multiplicação dos investimentos feitos pelas concessionárias em termos de saúde, geração de emprego e renda, e efeitos positivos ao meio ambiente, quando um serviço é licitado, os municípios são capazes de usar os recursos provenientes para investir em outras camadas e serviços necessários à melhoria de vida de todos.

4. A Iguá tem conduzido suas ações com protagonismo a partir de quatro eixos: segurança hídrica, eficiência na produção e distribuição de água, responsabilidade na coleta e tratamento de esgoto e respeito às pessoas. Você poderia explicar um pouco sobre esses quatro eixos e como eles estão atrelados aos fatores ESG?

PÉRICLES: Entendemos que a sustentabilidade não é apenas um compromisso empresarial, mas um fator essencial do negócio, algo que permite transformar a vida das pessoas. Quando falamos em segurança hídrica, significa que buscamos garantir o acesso sustentável à água de qualidade, por meio da conservação e preservação de ecossistemas terrestres e aquáticos, adaptação às mudanças climáticas, redução da poluição e outras práticas que contribuem para a manter a disponibilidade desse recurso tão valioso.

Eficiência na gestão do ciclo da água quer dizer que trabalhamos para otimizar os processos de captação, produção e distribuição. Entre as iniciativas que desenvolvemos nessa frente estão: diminuir o uso de energia em toda a cadeia de distribuição, otimizar a aplicação de produtos químicos no tratamento e reduzir as perdas a patamares sustentáveis, buscando o uso racional e equilibrado dos recursos naturais, garantindo a regularidade do abastecimento.

Ser responsável, para nós, é aperfeiçoar constantemente o processo de tratamento de efluentes, contribuir para a recuperação de cursos d’água e ampliar a cobertura, visando a universalização dos serviços e melhores condições de saúde pública. Por fim, o respeito às pessoas permite o desenvolvimento de uma empresa moderna e orientada à inovação. Estamos criando uma cultura organizacional com foco na diversidade, no protagonismo de cada colaborador e em seu papel de transformação. Nosso sucesso é resultado do profissionalismo e da dedicação dos mais de 1,5 mil colaboradores que trabalham nas operações em todo o Brasil.

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